(Nota: este conto foi preparado como exemplo de um desenvolvimento para os Contos do Mago e dos objectivos e métodos do PREAA, ou seja, utilizar a arte como meio para a educação ambiental)
...A tempestade revolveu as areias de uma praia no norte de África, fazendo aparecer os restos de um barco naufragado e há muito esquecido. Nele se encontrava presa a moura Salúquia, dividida entre duas saudades: a do seu noivo e a da sua casa.
Foi um polvo que a ajudou a perceber que era um fantasma, adormecido há séculos sob as ondas e as areias.
Salúquia teve de se decidir. Quando percebeu que nunca reencontraria o seu noivo, deixou cair o livro de poemas que ele lhe tinha entregue e atravessou o mar de regresso a casa.
Guiou-se pela rota das sardinhas, dos atuns que as perseguiam, pelo voo dos bandos de abelharucos e, sobretudo, pelas vozes que a chamavam de longe. Estas eram milhões de vozes presas nas rochas que se formaram a partir dos esqueletos petrificados de animais marinhos.
Quando Salúquia chegou à Praia da Marinha e colocou as suas mãos sobre as rochas, estas vibraram e saudaram-na com mais força.
Salúqui perguntou-lhes pela sua casa à beira do paúl (da lagoa) onde o seu pai caçava aves aquáticas:
- A minha casa… será que ainda lá está? – Oxalá, oxalá! Mas como será que a encontro? (Salúquia já se tinha apercebido que a paisagem à sua volta se tinha modificado)
Foi nesse momento que uma voz a sobressaltou, quando lhe disse que a ajudaria a procurar a sua casa. Salúquia nunca tinha visto uma sereia; a sereia Seixa também nunca tinha visto uma moura encantada…
Subiram a arriba e olharam em redor… Foram andando ao acaso, à procura de pistas que lhes dissessem onde estaria a lagoa e a casa de Salúquia.
Pelo caminho, foram vistas por um melro que se interessou por elas e as seguiu. O melro não conhecia nenhuma lagoa. Foi à frente para ver se via alguma coisa em que nunca tivesse reparado.
- Vi apenas alguns charcos, mas não lhes chamaria uma lagoa…
Encaminharam-se para lá. De caminho, encontraram uma gineta que se preparava para ir caçar. A gineta acompanhou-as por algum tempo, apesar de não saber dar-lhes indicações.
Nos charcos encontraram uma velha pata real (D. Marquitas) que lhes disse para irem um pouco mais adiante à procura da sábia Luísa Vaz. A gineta não os acompanhou.
- Vão ter com Luísa Vaz: só ela será capaz…
Chegados a uma grande lameira plana e cheia de arrozais chamaram por Luísa Vaz, porque ela seria capaz.
Luísa Vaz era uma galinha sultana, ou camão. Era um animal extraordinariamente velho e sábio. Explicou-lhes que a lagoa que elas procuravam tinha deixado de existir há muito.
- Foi pelo cano!
Queria ela dizer que tinha sido drenada para se obterem terras de cultivo e para se eliminarem os mosquitos que provocavam o paludismo, ou malária.
Salúquia ficou destroçada.
O sol estava quase a nascer.
Luísa Vaz sugeriu-lhes que procurassem rochas ou árvores que a Moura reconhecesse. A partir desses marcos poderia chegar ao lugar onde deveria estar a sua casa
- Será que ainda lá está? Oxalá, oxalá!
Salúquia lembrou-se das oliveiras. Havia algumas oliveiras que já eram velhas quando ela era menina. Ainda lá estariam? Procurou-as e pensou que as encontrara, mas não conseguia ter certezas.
Por isso, sentou-se debaixo dos ramos de uma das oliveiras enquanto o Sol despontava e a sereia se despedia – porque as sereias não conseguem ester muito tempo debaixo do sol forte. Salúquia assegurou-lhe que continuaria a procurar a sua casa.
À medida que a luz aumentava, a moura ia ficando cada vez mais transparente.
O melro ficou a cantar num ramo, fazendo-lhe companhia.
Enquanto foi vivo, vinha de vez em quando ter com ela para lhe fazer companhia e cantar uma canção.
Para pensar:
Porque razão esta história se chama "Onde está a minha lagoa"?
Por que razão chamámos Luísa Vaz à galinha sultana?
Indica o nome de um animal que migra entre diferentes regiões do planeta.
Por que razão Salúquia não encontrava a sua lagoa?
Por que razão Salúquia usou as oliveiras para tentar descobrir a sua casa?
De que material são feitas as casa tradicionais desta região? (Algarve litoral/barrocal)
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