quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Onde está a minha lagoa?

(Nota: este conto foi preparado como exemplo de um desenvolvimento para os Contos do Mago e dos objectivos e métodos do PREAA, ou seja, utilizar a arte como meio para a educação ambiental)


...A tempestade revolveu as areias de uma praia no norte de África, fazendo aparecer os restos de um barco naufragado e há muito esquecido. Nele se encontrava presa a moura Salúquia, dividida entre duas saudades: a do seu noivo e a da sua casa.

Foi um polvo que a ajudou a perceber que era um fantasma, adormecido há séculos sob as ondas e as areias.
Salúquia teve de se decidir. Quando percebeu que nunca reencontraria o seu noivo, deixou cair o livro de poemas que ele lhe tinha entregue e atravessou o mar de regresso a casa.
Guiou-se pela rota das sardinhas, dos atuns que as perseguiam, pelo voo dos bandos de abelharucos e, sobretudo, pelas vozes que a chamavam de longe. Estas eram milhões de vozes presas nas rochas que se formaram a partir dos esqueletos petrificados de animais marinhos.
Quando Salúquia chegou à Praia da Marinha e colocou as suas mãos sobre as rochas, estas vibraram e saudaram-na com mais força.
Salúqui perguntou-lhes pela sua casa à beira do paúl (da lagoa) onde o seu pai caçava aves aquáticas:
- A minha casa… será que ainda lá está? – Oxalá, oxalá! Mas como será que a encontro? (Salúquia já se tinha apercebido que a paisagem à sua volta se tinha modificado)
Foi nesse momento que uma voz a sobressaltou, quando lhe disse que a ajudaria a procurar a sua casa. Salúquia nunca tinha visto uma sereia; a sereia Seixa também nunca tinha visto uma moura encantada…
Subiram a arriba e olharam em redor… Foram andando ao acaso, à procura de pistas que lhes dissessem onde estaria a lagoa e a casa de Salúquia.
Pelo caminho, foram vistas por um melro que se interessou por elas e as seguiu. O melro não conhecia nenhuma lagoa. Foi à frente para ver se via alguma coisa em que nunca tivesse reparado.
- Vi apenas alguns charcos, mas não lhes chamaria uma lagoa…

Encaminharam-se para lá. De caminho, encontraram uma gineta que se preparava para ir caçar. A gineta acompanhou-as por algum tempo, apesar de não saber dar-lhes indicações.
Nos charcos encontraram uma velha pata real (D. Marquitas) que lhes disse para irem um pouco mais adiante à procura da sábia Luísa Vaz. A gineta não os acompanhou.
- Vão ter com Luísa Vaz: só ela será capaz…
Chegados a uma grande lameira plana e cheia de arrozais chamaram por Luísa Vaz, porque ela seria capaz.


Luísa Vaz era uma galinha sultana, ou camão. Era um animal extraordinariamente velho e sábio. Explicou-lhes que a lagoa que elas procuravam tinha deixado de existir há muito.
- Foi pelo cano!
Queria ela dizer que tinha sido drenada para se obterem terras de cultivo e para se eliminarem os mosquitos que provocavam o paludismo, ou malária.
Salúquia ficou destroçada.
O sol estava quase a nascer.
Luísa Vaz sugeriu-lhes que procurassem rochas ou árvores que a Moura reconhecesse. A partir desses marcos poderia chegar ao lugar onde deveria estar a sua casa
- Será que ainda lá está? Oxalá, oxalá!
Salúquia lembrou-se das oliveiras. Havia algumas oliveiras que já eram velhas quando ela era menina. Ainda lá estariam? Procurou-as e pensou que as encontrara, mas não conseguia ter certezas.
Por isso, sentou-se debaixo dos ramos de uma das oliveiras enquanto o Sol despontava e a sereia se despedia – porque as sereias não conseguem ester muito tempo debaixo do sol forte. Salúquia assegurou-lhe que continuaria a procurar a sua casa.
À medida que a luz aumentava, a moura ia ficando cada vez mais transparente.
O melro ficou a cantar num ramo, fazendo-lhe companhia.
Enquanto foi vivo, vinha de vez em quando ter com ela para lhe fazer companhia e cantar uma canção.


Para pensar:
Porque razão esta história se chama "Onde está a minha lagoa"? 
Por que razão chamámos Luísa Vaz à galinha sultana?
Indica o nome de um animal que migra entre diferentes regiões do planeta.
Por que razão Salúquia não encontrava a sua lagoa?
Por que razão Salúquia usou as oliveiras para tentar descobrir a sua casa?
De que material são feitas as casa tradicionais desta região? (Algarve litoral/barrocal)
Verdes são os campos: leitura em conjunto. Audição da canção.

Mudam-se os tempos - Luís Vaz de Camões/José Mário Branco

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Já memorizámos "Verdes são os campos"?... Muito bem!!!

Está na altura da nossa segunda visita ao prado... Se não chover. Já se notam diferenças 
em relação à nossa primeira saída. À medida que as plantas crescem, as diferenças entre as diferentes
espécies tornam-se mais evidentes. Começam a aparecer novas e flores que pareciam estar
adormecidas. 
 
A propósito de tantas mudanças, eis mais um poema de Camões para memorizarmos: 
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora* este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor** espanto:
Que não se muda já como soía*** .
 
 Luís de Camões 
                         
 
*Afora = "para além de..."; mor = "maior"; soía = "costumava"
 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Guião de pesquisa para 10 de Fevereiro

Para fazeres este trabalho deves reunir-te com o teu grupo. Se procurares informações na Internet, utiliza a lista de sites para pesquisa que se encontra na sefgunda página.


Cada um dos grupos tem de escolher e fazer um pequeno estudo sobre um animal e uma planta do Algarve. Pode ser dos que observaste no prado, um dos que aparecem no conto da Moura Encantada ou dos que encontrarás na Internet ou nos livros:

Animais

Plantas
Nome:


Nome:

Como se alimenta?



Tem flores? De que cor?

Como é o seu revestimento? (Pelo, penas, escamas, ...?



Em que tipo de solos vive?

Quantas patas tem?



Precisa de muita água?

Como é a sua boca?



É utilizada pelas pessoas?

Qual é o seu tamanho?



Qual é o seu tamanho?

Queres acrescentar alguma coisa?




Queres acrescentar alguma coisa?



Coloca a seguir a esta frase as imagens que encontraste




Percursos pelo Concelho de Portimão, com referências à geologia, à fauna e à flora

inclui 1500 fotos da fauna e flora do algarve

Documento Flickr de um amador com fotos de plantas

Obra de referência muito completa, para consulta de professores ou de estudantes avançados

Página com dados interessantes, que seria acessível às crianças se não fosse em inglês...

Site de Tavira, com fotos identificadas de árvores e arbustos

Aves do Algarve – não inclui aves de rapina

Fauna do Algarve – Ria Formosa

Mochos e corujas


Eis algumas sugestões de que podes procurar utilizando os endereços acima ou procurando com um motor de busca:
Gineta
Texugo
Arganaz
Musaranho
Toupeira
Águia de Bonelli
Bufo
Coruja das torres
Ouriço-cacheiro
Abelhas
Vespas
Cobra rateira
Cobra d'água
Lagartixa
Sardão
Osga
Morcegos
Escaravelhos
Louva-a-deus

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Poemas de Rosa Lobato de Faria e Mia Couto

Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantigas dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
à saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber a coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.
Rosa Lobato de Faria



Árvore

cego
de ser raiz

imóvel
de me ascender caule

múltiplo
de ser folha

aprendo
a ser árvore
enquanto
iludo a morte
na folha tombada do tempo

Mia Couto



Identidade

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
O nexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato
morro
no mundo porque luto
nasço
Mia Couto



Viagem

O beijo da quilha
na boca da água
me vai trocando entre céu e mar,
o azul de outro azul
enquanto
na funda transparência
sinto a vertigem
da minha própria origem
e nem sequer já sei
que olhos são os meus
e em que água
se naufraga minha alma

Se chorasse, agora,
o mar inteiro me entraria pelos olhos
Mia Couto

Uma flor - Entre áspas

Verdes são os Campos - Rui Navarro, Teresa Silva Carvalho

Verdes são os campos

Quantas coisas conseguimos descobrir num único poema? Como é possível que se fale de tantas coisas ao mesmo tempo? Reparem como em poucos versos se encontram o amor pela natureza, o amor, a agricultura, a poesia...
 
Tal como Luís de Camões, vamos tentar partir do que observámos da natureza para criar os nossos próprios poemas... e os nossos herbários, e os nossos cadernos de campo... Para já ficaremos por algumas quadras.
 
Para nos inspirar, ficamos com este pequeno poema:
 
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Visita ao prado




Na nossa primavera adiantada, os frutos do Outono, a humidade do Inverno e o Sol impaciente juntaram-se para prepararem uma festa para os nossos alunos. Há montes de coisas interessantíssimas mesmo ao pé da porta... E num dia tão bonito como este, é preciso sair e ver o mundo: o orvalho nas ervas, as flores das azedas que permanecem fechadas até mais tarde se estão à sombra, os cogumelos em vários estádios de desenvolvimento, as pegadas de um cavalo e de dois cães que atravessaram o pinhal, a terra das barreiras, que nuns locia é argilosa e noutros é arenosa, o cascalho feito dos restos de montanhas antiquíssimas e que se depositarm no leito de rios há muito desaparecidos, as flores das amendoeiras...


Que plantinhas são aquelas que parecem veludo? Porque é que o musgo é tão importante em alguns ecossistemas? Quem já viu uma bolota a germinar debaixo dos ramos da árvore-mãe? Vêem a raiz a entrar na terra e as primeiras folhas a despontar? Recordam-se do geógrafo que não saía da secretária? Os nossos alunos estão a fazer o contrário. As mamãs vão ter de nos perdoar a lama nos sapatos, mas isto é muito importante para o desenvolvimento intelectual dos miúdos! Contamos fazer mais saídas ao longo do ano lectivo, fotografando os mesmos locais em momentos diferentes. Mais tarde daremos notícias.

(tivemos problemas a carregar as imagens. Fica para mais tarde)